Jun e Gyaku Kaiten
O segredo está no quadril – Jun e Gyaku Kaiten
Adaptado livremente de Oyama Academy (https://oyamaacademy.wordpress.com/)
Você já deve ter ouvido seu Sensei Marcela falando que para ter Kime de verdade é necessário saber mexer o quadril. Não é uma questão apenas de saber mexer os braços e pernas para frente ou para trás, é preciso saber como pôr peso por no golpe, seja ele uma defesa ou um ataque.
Sabemos que o Kime não é tão fácil de se obter, nem tão difícil, e como tudo no Karate, leva prática e tempo para se aperfeiçoar. Nesta postagem vamos falar sobre outro elemento essencial para que o kime seja alcançado. Não adianta você conseguir por toda a velocidade e tensão no seu corpo no momento correto se ele estiver na posição errada. Se seu corpo estiver na posição errada, ou melhor, se seu quadril estiver na posição errada, você não conseguirá colocar todo o seu peso nos seus golpes. Isso é um fato. O que você estará fazendo, sem o uso adequado do quadril, é jogando apenas o peso do seu braço ou perna. Não quer dizer que não vá doer no outro, se você for uma pessoa grande e pesada, só quer dizer que poderia ser mais efetivo.
Primeiro de tudo, é bom lembrar que nós todos temos um centro de gravidade, que é um ponto onde a gravidade como força da física se aplica ao conjunto do nosso corpo. No corpo humano ela fica mais ou menos ali perto do quadril e ele estar nivelado ou não, estável ou não, é o que será responsável em parte pelo seu equilibro e sua capacidade de transmitir forças.
Se vocês estiver equilibrado e firme, você consegue se mover e fazer as atividades. Pois bem, então se deve nivelar sempre o quadril em relação ao chão, dessa forma encaixando-o, para ganhar estabilidade e conseguir por peso em uma direção que queiramos, que provavelmente será onde estaremos aplicando a técnica, seja ela uma defesa ou um ataque. Isso, como já deve ter ficado meio óbvio, chamamos de encaixe do quadril. Para ficar ainda mais claro, o encaixe do quadril é você pressionar a parte mais baixa do seu quadril para frente, movendo a pélvis para cima. Mais ou menos como no número 1 da figura abaixo, mas sem se curvar pra frente:
Dessa forma se estabiliza e consegue por a força para frente. Mas não é só isso, há também as rotações laterais para o quadril, não só para frente.
O Giro dos Quadris (Koshi Kaiten)
O quadril deve funcionar como uma mola, quanto mais tensionada, maior o impacto quando solta. Então se gira o quadril para gerar essa força de rotação, mesmo que o golpe em si seja em linha reta. Não golpeamos com o corpo paralisado e só movendo o braço ou a perna, o quadril se projeta e gira, seja ele ficando de frente, totalmente de lado, em 45º, etc. Tudo vai depender da técnica que você está utilizando. E o momento certo de usar estar ou aquela técnica vai depender da sua experiência, ou seja, tem que praticar.
Quanto mais rápido for o giro do quadril, melhor. Pois assim a técnica será mais rápida e com isso, mais forte. Mas é interessante, quando se está aprendendo, fazê-lo devagar até que o corpo se acostume e não saia sem a forma correta. Os pontos importantes da utilização do quadril, segundo Nakayama, são:
- Manter os quadris numa linha horizontal ao chão e girá-los;
- Não deixar que nenhum dos dois lados se eleve, tem que ficar nivelado;
- Não girar os ombros sozinhos, tem que ser sempre uma combinação com o quadril;
- Manter sempre o torso ereto, tomando cuidado para que as nádegas não se projetem para trás.
Ou seja, você tem que mover o tronco em conjunto ao quadril e a impulsão gerada pelas pernas, só assim você consegue transferir seu peso nos golpes. Se você pensar em física, é só em pensar em vetores e forças, você precisa fazer com que todos trabalhem em uma direção o máximo possível. Há duas maneiras de fazer essa rotação, a regular (Jun Kaiten) e a reversa (Gyaku Kaiten):
Jun Kaiten (Rotação regular)
O quadril deve girar na mesma direção da técnica, a dizer, se darei um soco direto (choku-zuki) ou um soco semicircular (mawashi-zuki), o quadril gira na mesma direção que a técnica se dirige, se vou socar para a esquerda, com a mão direita, meu quadril gira para a esquerda. A defesa soto-uke (defesa de fora para dentro) ou age-uke (defesa ascendente) também é jun kaiten, se eu defendo com o braço esquerdo,a direção seria para frente e direita e o quadril gira para a direita.
Gyaku Kaiten (Rotação inversa)
O quadril deve girar a direção contrária a da técnica, se giramos o quadril para a esquerda, a técnica é executada para a direita. . A dizer que se vou efetuar uma técnica com para a direita, meu quadril girará para a esquerda. Exemplos de técnicas com esse tipo de rotação é o Gedan-barai (varrer no nível inferior – cintura para baixo), Chudan-uchi-Uke (defesa de dentro para fora na altura do tronco) e o Shuto-uke (defesa com mão em espada). Nakayama alerta que para situação em que se esteja muito próximo, pode-se alterar a mudança do giro do quadril nessas técnicas. Essas modificações se dão na hora do combate e vai depender da situação, então via de regra, treina-se sempre com o gyaku kaiten.
Hanmi
Hanmi é o nome que se dá a um conceito nas lutas japonesas de que os dois hemisférios do corpo são blocos que formam uma unidade. Ou seja, temos os dois lados, o direito e o esquerdo.
Nas artes marciais o que procuramos, em um conflito, é nos expormos o mínimo possível, e quando dizemos “hanmi”, nos referimos basicamente, a expor apenas um dos lados. Desta maneira, Hanmi é uma posição semi-voltada para frente. Onde um dos seus lados estaria mirando a frente, a qual seria onde o oponente ou alvo estaria. O quadril então está de lado para o oponente ou em 45º mais ou menos.
Praticamente toda luta da que se participa, se busca sempre estar semi-voltado para o seu alvo, se expondo o mínimo possível, mas ainda assim, conseguindo ver os movimentos do oponente. É importante ressaltar, como falamos anteriormente sobre quadris, que eles devem ficar nivelados ao chão, não se pode ter o quadril direito acima do esquerdo ou vice-versa. Só assim se tem estabilidade e se consegue transferir a energia otimizada aos movimentos.
Gyaku Hanmi
O termo tem dois significados. Gyaku, nós sabemos, significa “reverso” ou “contrário” e aqui ele segue tendo este conceito, porém o referencial é quem vai ditar o que ele pode querer dizer. O referencial aqui é se estamos falando de você mesmo que está fazendo a postura ou se estamos falando em relação ao seu oponente. Gyaku Hanmi em relação a você é quando se está em uma posição semi-voltada para a frente, porém o seu tronco está para um lado, enquanto as pernas para o outro.
Este é o mesmo tipo de quadril que encontramos no Kata Heian Nidan, na técnica uchi-uke, na sequência em que ela se encontra junto com mae geri (chute para frente) e gyaku-zuki (soco reverso): Podemos notar que ele é mais curto que o Hanmi normal, pois o quadril ainda precisa estar nivelado e você não pode ficar de frente para o oponente. Segundo Nakayama, “é importante ter a sensação de arremessar o quadril quando se executa a técnica para frente ao máximo”.
Gyaku Hanmi aqui então significa que você está na posição semi-voltada para frente reversa ao do seu oponente, ou seja, se você está lutando com a perna direita à frente e seu oponente tem a perna esquerda a frente, ele se encontra em gyaku hanmi em relação a você, mas em relação a ele mesmo, está apenas em Hanmi.
Gyaku Hanmi entre duas pessoas – pernas diferentes à frente
Ai Hanmi
O Ai Hanmi é quando os dois oponentes, estão com a mesma perna para frente num embate. Então estão com a mesma lateral do corpo de frente um para o outro.
Ai Hanmi – oponentes com a mesma perna a frente (no caso a esquerda)
Shomen
Shomen significa, literalmente, para a frente. No caso de posição, quando se pensa em relação a Hanmi, é a posição voltada completamente para frente.
A barriga está de frente para o oponente.
No Karate ela é visível em diversos ataques, quando queremos colocar toda aquela energia física literalmente para frente, em direção ao oponente. É usada para convergir os vetores das forças para aquela direção de frente. Como todo o resto, toda técnica para frente é acompanhada do seu devido movimento de quadril, seja ele rotacionando, empurrando ou baixando.
O conhecimento de o que é Hanmi e Shomen ajuda na hora de praticar as técnicas de maneira mais efetivas, somando aos conceitos de Jun e Gyaku Kaiten já vistos e com o avanço do quadril que ainda veremos. Saber sobre isso ajuda a tornar mais claro muita coisa nos treinos.
Fontes:
NAKAYAMA, M. O Melhor do Karate. Fundamentos. Kodansha International – 1978.
YOKOYA, Kousaku. Karate Paradigm Shift. The Path to Rediscovering Budo Karate. Azami Press – 2017.
WIKIPEDIA, https://pt.wikipedia.org/wiki/Koshi_kaiten
____, http://underpop.online.fr/b/biomecanica-da-musculacao/centro-de-gravidade-no-corpo-humano.htm
Obs.: As imagens e desenhos de karatecas foram todas tiradas do livro de Nakayama citado acima.